by Claudio Botelho
No último dia 12, ao cair da tarde, tivemos o prazer de assisti-lo no auditório da Livraria Cultura, aqui em Brasília. Pequenino, com cerca de 150 lugares apenas, aquele ambiente nos proporcionou um clima bastante informal, pois ficamos muito próximo daquele artista que, de resto, pelo seu modo informal de ser, turbinou bastante a sensação de estar num clube de bairro, vendo alguém amigo fazendo arte (no bom sentido).
O repertório variou entre os luminares Verdi, Chopin e Vivaldi. Pessoal meio barra pesada, não?
Nosso grupo integrava a primeira fila, de modo que o palco ligeiramente elevado em relação ao nível dos assentos o deixava ainda mais perto da gente. Não mais que três metros nos separavam.
Na palco, um piano K.Kawai de cauda, postado em diagonal em relação à sala. E ele.
O músico de Lucca, na Itália, conterrâneo de um dos dois italianos supracitados (Verdi, salvo engano meu), iniciou seu trabalho de desconstrução e reconstrução dos temas, numa alternância pouco usual no jazz, pois, comumente, embarca-se no avião, levanta-se vôo para, lá na frente, pousar no mesmo aeroporto, numa espécie de vôo panorâmico.
Ele fez diferente: subia, descia no mesmo aeroporto, subia outra vez, voltava e seguia assim, sucessivamente, até o pouso final. Por vezes, nos perdíamos, mas as descidas constantes nos lembravam onde estávamos...
De formação clássica, já tendo feito vários trabalhos jazzísticos mais convencionais, me pareceu que ele, sendo bom filho, à casa paterna retornava. Teria sido, então, nesse amalgama que ele se encontrara em definitivo? O tempo é que vai dizer...
Como conhecíamos quatro CDs de sua lavra apenas de músicas de Jobim, ao final do concerto, um de nosso grupo pediu-lhe para tocar Luísa. Ele, simpatississimamente acedeu, mas esclareceu que conhecera a música apenas no estúdio, no momento da gravação de um daqueles quatro trabalhos, mas que iria tentar. Sentou-se novamente, iniciou, mas não deu conta. Lamentou, num tom decepcionado, mas brincalhão e, assim, todos fomos cumprimentá-lo, pedir autógrafos, tirar fotos, etc.
Naquele momento, havíamos acabado de assistir um grande artista que vibra com o que faz; que estava muito feliz e que havia homenageado, dentre os três escolhidos, alguém que considera o maior de todos os compositores: Chopin que, sendo austríaco, para ele transcendia, em sua musicalidade, qualquer barreira bairrista que ele pudesse levantar em proveito de tantos concorrentes fortíssimos que existem na Itália...
A música clássica foi homenageada e o jazz mais do que prestigiado, pois ali tínhamos testemunhado um grande artesão que soube fundir, como ninguém, duas das mais sublimes formas da comunicação humana!
Bravo, Riccardo!
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