Marabeau Jazz Restaurante
SCLN 216 Bloco C loja, 22 - Brasília - DF, 70875-530
SCLN 216 Bloco C loja, 22 - Brasília - DF, 70875-530
by Claudio Botelho
O local situa-se no finalzinho da Asa Norte, na comercial, aqui em Brasília, sendo sua entrada na lateral do Bloco C, da 216. Em relação à rua principal daquela área, seu piso ficaria no subsolo, não fora um decaimento do terreno, no sentido frente - trás da edificação, que em sua parte mais baixa, nivela-se com a entrada do ambiente.
“À entrada, uma árvore de luzinhas azuis ilumina uma placa que define o local: ‘ Mara Beau, Restaurante”. O motivo de nossa ida e de mais alguns amigos: o aniversário do titular deste blog. Havíamos sido convidados para comemorar aquele dia ouvindo o que mais gostamos de ouvir: JAZZ!
Dentro, à direita, um baixo elétrico (um Fender Jazz, me parece), duas guitarras e um banco alto, com um micro encosto, para um crooner. Por detrás, uma bateria.
O ambiente era pequeno, dotado de mesinhas circulares, um balcão, por sobre o qual se podia divisar uma pequena cozinha. Grosso modo, uma área para público e músicos de cerca de 40m2. Pequena, como costumam ser, por exemplo, ambientes do gênero em Nova Iorque.
Um dos convidados, avaliando o tamanho do local e vendo a bateria assustou-se: “Acho que, aqui, não caberia essa bateria...” Falei-lhe: “Depende do drummer...” Ficamos nisso, enquanto os músicos não tomavam seus assentos. Nas caixinhas de som, no teto, um jazzinho (“música mecânica”, como por aqui se diz) fazia o pano de fundo da palração.
Antes, quando cheguei frente à porta do local, fui recebido, André e esposa, por alguém que nos deu as boas vindas: “Boa Noite, sou a Mara Beau”. “Boa noite”, respondi. Entrei em seguida.
Lá dentro, casa meio cheia, mas chegando mais gente.
Com pouco, apareceram os protagonistas: a crooner (Ms. Mara Beau), dois guitarristas, um baixista e um baterista. Segundo ela anunciou , todos professores (de música, imaginei). Eram, respectivamente: Carlos Vinícius – g; Juninho de Souza –g; Rodrigo Salgado – b e Ronaldo Gaffa – d. Segundo anunciado, todos professores.
Naquele momento iríamos ver se o baterista iria ou não derrubar a casa...
Começou o show e o local se manteve em pé. De início, notei uma altivez incomum na crooner: cabeça sempre erguida, olhar firme. Apenas o microfone lhe incomodava: não encontrava a posição ideal e nem encontrou, durante todo o transcorrer do show. Sentada no banco alto, pernas elegantemente cruzadas, apesar de não usar vestido comprido, comandava todo o movimento.
Iniciou o show (todo composto dos grandes standards do cancioneiro popular americano, alguns temas do jazz, duas ou três músicas do Jobim – não apresentadas em português e Estate – cantada em italiano. Esta última, em minha opinião, uma das coisas mais lindas que já foram compostas. Vivas para o João Gilberto que, com os arranjos decisivos de Claus Ogerman, tiraram-na do ostracismo). Quase tudo cantado em inglês.
De início, o pessoal me pareceu um pouco preso; um tanto reticente em se soltar e, os da frente, consultavam em excesso as partituras, o que os fazia ficar com as cabeças um pouco voltadas para o chão. A crooner, no entanto, seguia sobranceira: se inclinava a cabeça, era para trás, nunca para o chão.
Os músicos que, de início, paqueravam bastante as partituras, foram se libertando mais, particularmente o guitarrista Carlos Vinícius e o baterista. Estes, mas lá para o final do show, se soltaram bem, para orgulho da crooner que, mais tarimbada, seguindo a mesma batida do início do show, ao final de cada solo, dava uma olhada de rabo de olho para o público e esboçava um discretíssimo sorriso, como que a dizer: não disse, seus bobocas, que aqui se ouve jazz?... Carlos Vinícius, por sua vez, ao final de cada solo, olhava para o outro guitarrista passando-lhe a bola. Este tentava corresponder. O primeiro parecia mais a vontade; estava mais solto e, assim, conseguiu se comunicar mais. Seria o spalla? Pareceu-me mais familiarizado com aquele contexto. O segundo bem poderia ser um convidado, ainda se aclimatando...
A crooner deixou de atender alguns pedidos feitos por nossa turma (aliás, não atendeu a nenhum), vez por outra dava um elegante carão na turma que falava mais alto (“Recordo que aqui é uma casa de música”) e, na hora que decidiu parar de cantar, parou. Não adiantaram nossas palmas. Existiam alguns que insistiam em algo do songbook do Bill Evans. Teria ela um segundo compromisso?
Ms. Mara Beau não é Sarah Vaughan, mas é a nossa diva do jazz, aqui de Brasília. E age como tal. Aqui, até onde sei, pode falar mais alto... Não deixa de ser interessante. A voz é bonita, por sinal, reminiscente da voz da Dinah Washington.
Gostei bastante do guitarrista e do baterista; este soube ser não intrusivo, como o ambiente impunha, deixando as explosões apenas para os momentos de vibração dos presentes, o que fazia com que, naturalmente, não ficassem tão evidentes, além de reforçar o impacto das manifestações. É admirador do Brian Blade (como eu), usou muito das vassourinhas que, segundo confessou ao editor, veio dominar bem recentemente...
Carlos Vinicius, de início um tanto reticente, foi se soltando e mostrou dominar bem a linguagem jazzística. Muito bom e me agradou ainda mais por ter um estilo expansivo, aberto, bem diferente de certos Abercrombies que militam por aí (por excepcionais que sejam, não me agradam). Parabenizei-o quando, na entrada do toalete, me cedeu à vez. (Não por isso, claro. Essa gentileza mereceu meu agradecimento)
Aliás, pra que dois guitarristas? Esse é um claro caso onde o mais é menos... Talvez tenha sido mesmo para introduzir o segundo na vida prática (isso é apenas uma ilação minha). Eu, por exemplo, nunca gostei de apresentação de dois pianistas ao mesmo tempo. Embaralha, confunde um pouco o jogo do quem-é-quem...
Quanto aos dons vocais de Ms Beau, não vou me estender muito, porque sou, reconhecidamente, fanático por música instrumental. Assim, minha pouca prática nas vocalizações não me autoriza a tanto...
Foi um programa diferente, sem dúvida. Brasília pode não abrigar o Village Vanguard, mas acolhe o Mara Beau Restaurante. Certamente, um dos mais jazzistas que existem...
2 comments:
Rapaz, o segundo guitarrista é o Juninho di Sousa... O cara toca muuuito e é muito versatil sendo bem mais experiente que o Vinicius que toca muito bem, claro. Ali é pau a pau. Também toco guitarra e acho pessimo que guitarristas brasileiros se dediquem ao jazz como fazem por natureza os americanos...
Os americanos adoram a forma como tocamos, mas os Brasileiros querem que toquemos como os americanos porque ficam escutando jazz gringo em casa. Engraçado isso.
Ia esquecendo... o Juninho não toca ali, deve ter sido convidado para tocar essa noite. Ali o Carlos Vinicius toca desde muito tempo. Outro detalhe é que a turma toca sem ensaiar, e por isso as partituras à frente.
Quando for cobrar dos caras alguma coisa em relação à repertório e perfomance, imagine os americanos tocando samba, partido alto ou afoxé e num pub em New York. Aposto que fazemos melhor o Jazz deles do que ao contrário. Será mais justo.
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