Friday, March 30, 2018

1 Sem 2018 - Part Eight

Mônica Salmaso
Alma Lírica





By Mauro Ferreira
"Meu Carnaval é desfilar poesia / Na melodia de uma canção", avisa Mônica Salmaso em verso de Carnalvazinho (Meu Carnaval), tema de Lisa Ono e Mario Adnet que abre seu álbum Alma Lírica Brasileira. Trata-se de disco de trio, assinado por Salmaso com Nelson Ayres e Teco Cardoso. A sublinhar o canto preciso de Salmaso - que dispara sutil arsenal percussivo ao longo das 14 faixas - há somente o piano de Ayres e os sopros de Cardoso. É o suficiente para realçar o lirismo de cancioneiro irretocável que pesca pérolas como Promessa de Violeiro (Raul Torres e Celino), embalada na forma de toada, com direito a um tambor de reisado percutido pela intérprete. É fato que faixas como a valsa Lábios que Beijei (J. Cascata e Leonel Azevedo) e Melodia Sentimental(Heitor Villa-Lobos) reiteram a solenidade que pauta, em maior ou menor grau, o canto preciso de Salmaso. Mortal Loucura - belíssima melodia posta por José Miguel Wisnik em poema de Gregório de Matos (1636 - 1695) - roça até a arquitetura de um tema sacro. Tal solenidade alcança seu pico em Derradeira Primavera (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) - quase transformada numa peça de câmara - mas jamais desmerece um disco sedutor e refinado. Até porque há momentos mais descontraídos que deixam o álbum mais equilibrado. O piano de Ayres, as flautas de Cardoso e a frigideira de Salmaso sublinham a verve quase irônica do samba Meu Rádio e Meu Mulato (Herivelto Martins). Em Samba Erudito (Paulo Vanzolini), o mesmo piano de Ayres evoca gracioso o universo da música clássica em sintonia com o título do tema de Vanzolini, adaptador de Cuitelinho, o tema de domínio público recolhido por Antonio Xandó e regravado com lirismo por Salmaso. Além de tocar todos os pianos do disco, Ayres comparece como compositor da bela e inédita valsa Noite e do tema instrumental Veranico de Maio. Sempre entrosado, o trio consegue até recontar com suingue A História de Lily Braun (Chico Buarque e Edu Lobo) - ainda que Salmaso não traga na voz todo o molejo necessário para realçar o tom teatral dos versos do tema do balé O Grande Circo Místico(1983). Ao fim do álbum, quando o Trem das Onze (Adoniran Barbosa) passa mais silencioso por trilhos minimalistas, Alma Lírica Brasileira deixa a certeza de ser fiel à alma musical de uma das melhores cantoras brasileiras de todos os tempos. Com seu canto preciso solene, Mônica Salmaso faz folia ao desfilar poesia nas belas melodias reunidas no disco.


Paula e Jaques Morelembaum & CelloSam3aTrio
Live In Italia: Omaggio a Jobim




By Biscoito Fino
Gravado no Festival de Jazz de Padova, o CD “Paula e Jaques Morelenbaum – Live in Italia – Omaggio a Jobim”, que agora ganha edição no Brasil via Biscoito Fino, registra as emoções de uma noite que encantou a plateia italiana com um repertório que exalta as várias facetas do repertório de Tom, nosso maestro soberano, com o auxílio luxuoso do CelloSam3aTrio.
“Jaques e eu fomos convidados para participar do festival, e naquele ano todos os artistas fizeram uma homenagem ao Tom”, relembra Paula. “Dividimos o roteiro em uma parte instrumental, com meu violoncelo adicionado ao exímio e suingado violão de Lula Galvão e à sutil e calorosa bateria de Rafael Barata, interpretando as inúmeras composições do Tom que já fazem parte do repertório habitual de nossos concertos e turnês”, pontua Jaques.
A proximidade afetiva entre os públicos brasileiro e italiano valeu uma observação interessante do violoncelista: “A situação é realmente bastante parecida com a que encontramos aqui no Brasil. A diferença é que de uma maneira geral, nas 91 cidades italianas em que já toquei nos últimos 42 anos, a gente encontra um público mais ligado numa música de real profundidade e qualidade do que a encontrada mais cotidianamente no Brasil, atualmente.”
Paula lembra uma máxima de Tom – “menos é mais… e isso se percebe na sua música”, e Jaques completa: “O formato de trio, e o nosso é radicalmente minimalista, a ponto de em momentos em que o violão improvisa, o faz em contraponto apenas com a minha linha de baixo e o ritmo ditado pela bateria, então sabemos que para que o caminho musical fique bastante claro para o ouvinte, devemos ouvir com total foco o que está acontecendo.”
Os primeiros passos de Paula Morelenbaum como cantora foram exatamente com Jobim: “Aprendi muito com ele, e quando canto sempre penso no Tom, e de como gostaria que a canção fosse interpretada, sem maneirismos ou afetação. Tom foi quem abriu as portas do mundo para mim, sou muito grata por isso.”
Paula revela como é possível saudar o mestre em uma formação original: “Pode-se achar estranho homenagear o Tom numa formação musical sem piano, mas não nesse caso. Todas as linhas do piano dele estão presentes, e passeiam pelo violoncelo, pelo violão, pela voz e pela percussão. E sem querermos traçar linhas paralelas, acho que ficou bem interessante não cairmos no óbvio. Seguindo os arranjos originais, e com essa formação conseguimos uma sonoridade muito pessoal.”
E foi esta sonoridade que conquistou a plateia do Festival de Padova, que reagiu calorosamente a todas as faixas que compõem este belo CD, que traz para a obra de Tom Jobim um acento único.


Henrique Lissovsky
Tem Sambajazz Na Belazul




By Tratore
São temas, variações e improvisos com formas abertas, sendo todas as faixas de sua autoria. Esse trabalho, que foi muito bem recebido pela mídia especializada (henriquelissovsky.mus.br), conta com a participação de músicos como Mauro Senise, Paulo Russo, Ivan Conti Mamão, João Rebouças, Robertinho Silva, Joana Queiroz e Rafael Barata.


Tutty Moreno/Rodolfo Stroeter/André Mehmari/ Nailor Proveta
Dorival



By Silvio Osias
CD “Dorival” relê Caymmi muito bem com forte sotaque jazzístico.
O melhor intérprete de Dorival Caymmi é Dorival Caymmi.
Ele e seu violão.
Disso, creio que ninguém duvida.
Mas a lista dos que o interpretam muitíssimo bem é extensa.
Nem vou perder tempo em fazê-la.
Essa conversa é a propósito de um CD que me impressionou bastante.
Dorival é o título. Simples assim.
Caymmi desconstruído e reconstruído por quatro feras nos seus instrumentos:
O pianista André Mehmari, o saxofonista Nailor Proveta, o baterista Tutty Moreno e o contrabaixista Rodolfo Stroeter.
Dorival foi gravado um ano atrás num dos melhores estúdios do mundo, o Rainbow, em Oslo, na Noruega.
Tão lendário quanto o estúdio é o músico e engenheiro de som Jan Erik Kongshaug, que gravou e mixou o disco.
Os temas de Caymmi escolhidos pelo quarteto foram recriados com fortíssimo sotaque jazzístico. Mas a releitura conserva algo do espírito do autor, mesmo submetendo suas melodias a outras cores, a timbres e harmonias muito peculiares, à improvisação que marca a linguagem do jazz.
A compositora Joyce Moreno foi testemunha da gravação.
Casada com o baterista Tutty Moreno, ela também estava a trabalho no Rainbow, gravando um disco dedicado ao cancioneiro de Caymmi.
Na capa de Dorival, há um delicado texto dela.
E, nesse texto, tem uma coisa que desejo destacar:
“Dorival é uma daquelas provas de que o Brasil que o Brasil merece é possível”.
Se não for, Joyce, pelo menos a gente sonha, ouvindo esse quarteto arrebentar, tocando a grande música de Caymmi!

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