Thursday, May 02, 2013

Jazz Records By George Marques

Caros amigos jazzófilos,
Não sei se a informação procede, mas alguns e-mails que recebi dão conta que hoje, 30/04, é o Dia Internacional do Jazz. Não sei se é fato ou qual a origem a que se refere a data, mas é sempre uma boa desculpa para compartilhar com os amigos as minhas audições recentes.
Aí vão:

1) Brad Mehldau Trio - Where Do You Start: 


Provavelmente, o melhor álbum de jazz contemporâneo que eu escuto nos últimos dois anos. Mehldau em grande forma e com excelente acompanhamento (Larry Grenadier no baixo e Jeff Ballard na bataria) destila toda sua sofisticação, técnica e inventividade em um repertório eclético e nada óbvio. Eu, pelo menos, não me lembro de ouvir "Airegin" de Sonny Rollin em um trio com piano. Meus destaques vão para atmosfera lírica de "Samba e Amor" (de Chico Buarque) e a genial inserção de tonalidades fúnebres em "Holland". CD para ouvir e reouvir muitas vezes.


2) "Swept Away" - Marc Johnson & Eliane Elias, com
Joe Lovano e Joey Baron:


 Nada como reunir músicos talentosos para fazer um CD despretensioso. Na minha opinião, muitos CDs de jazz recente (especialmente da ECM) sofrem por excesso de pretensão dos músicos, que querem se mostrar profundos e técnicos, pecam por indulgência e acabam fazendo música inócua (excesso de acordes isolados, sem conexão temática ou melódica) ou pomposa. "Swept Away" é um antídoto perfeito contra o jazz pretensioso. Os temas são simples, explorando células rítmicas ou melodias singelas. Os solos são límpidos, sem redundâncias e exibicionismos. Mais importante, os temas são variados, ora contemplativos, ora alegres, ora líricos. Essa é "casual music" no melhor sentido da palavra.


3) Marcin Wasiliewski Trio - "Faithful" e "January": 

          

Dois CDs com o trio de músicos poloneses. Uma pena. Músicos talentosos, com técnica e sofisticação, mas pouco inspirados. Difícil encontrar algum defeito objetivamente nesses álbuns, com perfeito equilíbrio entre os músicos, mas na minha opinião falta vida, vitalidade nessas músicas. Não há problemas em fazer música melancólica, mas a grande arte precisa saber expressar e se possível transcender os sentimentos que a originam. Nesse caso, a improvisação sobre temas vagos, sem caráter definido, consegue criar uma atmosfera lírica e contemplativa, mas fica nisso. Falta desenvolvimento orgânico para a música.


4) Tord Gustavensen Trio - "The Ground": 


Aplicam-se os mesmos critérios para música de Wasiliewski. Um conjunto talentoso, com técnica e consistência, faz música honesta, mas falta aquela centelha de inspiração que incandesce as melhores apresentações de jazz. Mais uma vez, não é problema de concepção. Fica a impressão que os músicos são capazes de fazer mais e melhor.


5) Lee Konitz & Warne Marsh - "Live at Copenhanguen
Vols. 1, 2 e 3":

   

 Não me canso de ouvir essas gravações. Em 1975, Konitz e Marsh já haviam amadurecido suficientemente seus estilos individuais para não serem mais simplesmente rotulados de "discípulos de Lennie Tristano". Inevitavelmente, qualquer reencontro desses dois saxofonistas inclui uma revisita aos temas clássicos de Tristano (Kary´s Trance, Two not One, April, Lennie-Bird, Palo Alto, Background Music), mas o curioso é que nessas reinterpretações as músicas soam mais livres, mais desenvoltas, mesmo dentro dos rígidos moldes "tristanescos". É como se eles quisessem oferecer as leituras definitivas daquelas obras clássicas que marcaram a formação de ambos. Uma belíssima homenagem póstuma ao pianista, que à época das gravações já estava falecido há dez anos. Outro destaque: duetos de Konitz e Marsh com transcrição de duas Invenções a Duas Vozes de J. S. Bach - o sax alto executa a linha da mão esquerda e o tenor da mão direita. Genial!


6) Dexter Gordon - "Our Man in Paris":


7) Mal Waldron - "Impressions":



Não vou enganar vocês. Nos últimos cinco anos, esses foram os CDs de jazz que eu mais ouvi. Eu acho essas execuções inesgotáveis, cheias de vitalidade e inventividade. Acho que muitos dos jazzistas contemporâneos deveriam sair de seu torpor lúgrube e tentar recuperar a energia e inspiração desses grandes mestres, cuja música não fica "ultrapassada" nunca.

Bem, nesse Dia Internacional do Jazz só posso dizer que um dia por ano é muito pouco para fazer justiça a essa grande forma de arte.

Abraços,
George

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