Wednesday, January 02, 2019

Friends Top 10 - 2018 By Claudio

By Claudio Botelho

01- DOUG JOHNSON TRIO - LIVE AT THE ROYAL GARDEN 
Aqui a grande surpresa do ano! Um Zé Mané, vindo lá de não-sei-onde, nos apresenta interpretações de standards americanos sem que torcêssemos o nariz! Como já falei, o interessante de suas interpretações é que, via de regra, enveredam por caminhos variados. Como se fossem mini-sub-músicas dentro de cada música. O mais normal é que sejam feitas improvisações únicas para cada performance: a cara toca o tema, improvisa seguindo uma linha única, volta para o tema e arremata. Muitos até fazem uso de jazz prêt-à-porter que pouco ou nada tem a ver com aquilo que o compositor fez. Muitos sopradores são mestres nessa arte! Vai ver, não sabem direito o que fazer... Johnson, além de ter sido muito feliz em suas variações, multiplicou-as, o que tornou seu trabalho bastante fora do comum. Pelo inesperado do que apresentou, me chamou muito a atenção. Por isso, for me, the best of the year!

02- ENRICO PIERANUNZI/ MADS VINDING/ ALEX RIEL - YESTERDAYS 
Este aqui foi lançado recentemente, mas a gravação é do século passado. Pieranunzi exibe uma musculatura musical que parece não estar mais com eles nestes dias. Jazzificação do melhor nível que se presta muito bem para torná-lo um dos mais importantes pianistas da história do jazz. Ponto! Sua performance na faixa JITTERBUG WALTZ prova isso muito bem. Ainda, embora não estando, nos dias que correm, com muita paciência para dar o seu melhor (anda meio entediado...), os abundantes registros do seu passado provam com sobras sua excelência. Do ponto de vista da essencialidade do jazz, veio como um dos mais fortes do ano.

03- JOEY ALEXANDER - ECLIPSE
Prodígio dos prodígios! Não sei como estará esse menino quando estiver com 20 anos, por exemplo! O cara já está num nível que vai desafiá-lo! Vamos ver o que o futuro lhe reservará. Espero que, na tentativa de "evoluir", não invente moda... Por enquanto, tem sido feliz até na escolha do saxofonista. Pelo menos para mim, Redman, de há muito, tem sido um dos mais "redondos" saxofonistas do Jazz. Sei não, talvez por não ser muito afeito a sopradores, acabo por gostar de alguém que eventualmente não seria do agrado dos "hard-cores" do sax. Marcílio pode dizer algo a respeito (apesar de sua casmurrice ao divulgar sua lista). Enfim, o rapazola mais e mais vem mostrando a que veio. Como tenho dito, me impressiona sua maturidade musical (nada a ver com sua dexteridade), além de me a agradar bastante seu approach que é a antítese de sua figura mirrada.

04- ROGER KELLAWAY TRIO - NEW JAZZ STANDARDS VOL. 5 
Esse é um prestidigitador do piano (alguns furos acima do Zeitlin, a quem, não me perguntem porque, sempre comparo). Enquanto que este tem um estilão engessado, aquele flutua no espaço. Sempre. Agilíssimo em seu jazz, tem uma leveza que muito poucos conseguem atingir. De certa forma, neste departamento, talvez seja único. Me faz lembrar Pete Jolly, embora os estilos não sejam exatamente iguais. Esse trabalho é rico, variado e é longo igual pilha Duracell. O que é bom, pois coisas boas são sempre benvindas, quanto mais em grande quantidade.

05- ALDO ROMANO - THREESOME
Trabalho que contrasta bastante com o anterior. Aqui, muito mais sério, um tanto sisudo, mas muito inspirado. O Doctor Jazz é um grande pianista que não esconde sua formação clássica. Romano, vigoroso e marcador de presença. Sempre lembro do seu trabalho em Oceans in the Sky com Steve Kuhn. Esse CD tem uma certa impregnação nostálgica. Parece evocar algo que não existe mais, mas que provoca boas lembranças. Muito bom.

06- FRED HERSCH TRIO - LIVE IN EUROPE 
Aqui, temos um dos melhores trabalhos dos tempos recentes de Hersch. Sem dúvida, é um dos medalhões do piano! Apesar de não me identificar com certas interpretações suas de inspiração ornettecolemaniana, nas demais situações, ele exulta finesse, drama e - sim! - autoridade. Em temas mais calmos, seu estilo "quebrado", único, reforça sobremaneira a circunspecção necessária. Nesse departamento, a meu juízo, é insuperável. Esse CD prova bem isso. No ano passado, voltei muitas vezes a ouvi-lo. Seguramente, um dos mais fortes desta lista. Recomendadíssimo!
07- AKI RISSANEN - AMORANDOM 
Fiquei impressionado com a segurança e o impressionismo desses meninos filandeses. A gravação soberba, muitos furos acima daquilo que se faz normalmente nos EUA, serviu de excelente palco para eles. Composições articuladas e, principalmente, jazzificação multlayered, como diriam os americanos. É aquela história: em cada song, você tem a parte 1, a parte 2 e assim vai. Um pouco Doug Johnson, se vocês me entendem. O trabalho é denso e inspirado. Vão em frente!

08- ANTÔNIO ADOLFO - ENCONTROS - ORQUESTRA ATLÂNTICA 
Esse tem andado por aí, na semiclandestinidade já por bem uns cinquenta anos! Passando despercebido... Não sei porque. Compositor e músico de primeira linha! Andou se perdendo um pouco aqui e ali. Normal. No entanto, no ano passado e neste ano se redimiu. Essa orquestra Atlântica é tudo de bom. A simbiose está perfeita e, cortês como ele só, Adolfo lhe deu amplo espaço. Afinal, quase todas as músicas são de sua lavra. Trabalho vibrante como poucos. A junção daquilo que de melhor tem uma orquestra com a malemolência brasileira, tudo acrescido com a excelência de Adolfo deu nisso aí: uma vibrante experiência musical!

09- ADDISON FREI TRIO - NO DEFENSE
Realmente, não tem defesa para a catraeragem da capa! Sei não, mas tenho uma certa convição que o sujeito perde muita venda ao se parecer mais um trio nordestino de sanfona , zabumba e triângulo do que um excelente trio da jazz como o que temos aqui. Pelo menos em Nova Iorque. Excelentíssimo CD! Sem dúvida, aqui está um dos melhores pianistas surgidos nos últimos tempos. Recomendo para quem gosta de trio de piano!

10- ADRIAN IAIES - VALS DE LA 81ST & COLUMBUS 
Não entendi porra nenhuma esse título, mas o CD é muito bom. Destaque para o bandoneonista que, embora não apresentando todo o drama dos melhores do ramo, manja muito de jazz, ao ponto de roubar o protagonismo de Iaies. Minha homenagem aqui aos hermanos argentinos que andam numa draga de fazer dó.

É isso, amigos. Até a próxima! Nunca é demais repetir: FELIZ 2019!

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